Corrente de Andrômeda: o Mato Grosso vai ficando fino

Preguiça de ler? Deixa que eu leio pra você
por Pedro de Azevedo

Noticiado em 24-5-2011


Andrômeda é uma personagem mitológica grega que fora acorrentada a fim de ser devorada por Cetus, um monstro enviado por Poseidon, uma vez que este se sentira ofendido pela mãe da princesa etíope. A única maneira de salvar o reino da Etiópia seria sacrificando-a, e assim fez seu pai, o rei.¹

Tudo indica que as míticas correntes voltaram a ser utilizadas, mas desta vez por fazendeiros para sacrificar florestas brasileiras. O recém-revelado método de desmatamento ocorre como num escalpelamento, costume muito praticado por mexicanos bandoleiros e por caçadores norte-americanos² quando guerreavam com indígenas, em que se arrancava brutalmente o escalpo (couro cabeludo) do inimigo, e em que a vítima dificilmente sobrevivia. O violentado agora é outro, mas a violência é a mesma: tratores puxam uma grande corrente, apelidada de "correntão", que derruba tudo em seu caminho, acelerando drasticamente a devastação.³

O flagrante foi feito pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Nas imagens, o correntão derruba centenas de árvores, deslizando desde sua base até a copa, sem piedade. A coitada da vez é a mata de transição entre o cerrado e a Amazônia, no Mato Grosso.

Ser careca nunca foi tão feio

O cerrado é o terceiro maior bioma do mundo, com 8.246.082 km²,⁴ e metade de sua área total já foi devastada.⁵ Já a floresta amazônica é a maior floresta tropical do mundo, com cerca de 5,5 milhões de km²,⁶ e aproximadamente 17% de sua área total foi devastada só pelo desflorestamento⁷ - inundações feitas por hidrelétricas não contam, por exemplo. A mata de transição é o que fica no meio disso tudo.

O cartel do desmatamento mantém uma louvável amizade entre seus membros: fazendeiros e agropecuaristas, bem como as mineradoras, contratam as madeireiras para a derrubada das árvores. Feito o serviço, agricultores e pecuaristas incendeiam a área para realizar sua "limpeza".⁸ Lá semeiam e criam gado, e quando a terra está degradada a ponto de comprometer a safra, a abandonam e recomeçam o ciclo.⁸ Tudo, claro, sob o aval de políticos corruptos, que geralmente são os próprios mandatários.

A gente nisso tudo

Na história grega, a princesa Andrômeda seria devorada por um monstro. Mas a Amazônia está a ser devorada por quem? Pelos fazendeiros? De forma alguma. Somos nós que a consumimos. Nós é que desperdiçamos o papel, nós é que usamos indiscriminadamente a madeira. São as pessoas que financiam essa indústria obscura. Os madeireiros, fazendeiros, mineiros e agropecuaristas são apenas quem faz o trabalho sujo; eles somente saciam nossa crescente necessidade de consumo, ou seja, são ferramentas manipuladas por nossas extravagâncias, e não o contrário. Tanto eles quanto nós somos vítimas de nossa ignorância ecológica, mas o principal vitimado é a mãe natureza.

No mito, Andrômeda é salva por Perseu, casa-se com ele e ambos têm um final feliz. Como Ademilson Badalotti, o maior desmatador do Mato Grosso e um dos maiores do Brasil,³ provavelmente não se apaixonará pela floresta, cabe a nós, por meio de mudanças de consciência e de hábito, salvá-la do iminente sacrifício.

Estimativa da remoção total de florestas feita pela ong
Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente na Amazônia).
A estimativa não leva em conta a área não totalmente derrubada.⁹

Bibliografia e referências bibliográficas:

¹) http://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%B4meda_(mitologia)

²) http://pt.wikipedia.org/wiki/Escalpo

³) http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2011/05/24/corrente-gigante-presa-trator-usada-para-desmatar-arvores-em-mato-grosso-924527519.asp

⁴) http://pt.wikipedia.org/wiki/Cerrado

⁵) http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/2010/09/01/cerrado-ja-perdeu-quase-metade-de-sua-area-original-mostra-ibge.jhtm

⁶) http://ambientes.ambientebrasil.com.br/amazonia/floresta_amazonica/floresta_amazonica_-_localizacao.html

⁷) http://pt.wikipedia.org/wiki/Desfloresta%C3%A7%C3%A3o

⁸) http://ambiente.hsw.uol.com.br/desmatamento1.htm

⁹) http://ambiente.hsw.uol.com.br/desmatamento4.htm

Autoria: Pedro de Azevedo

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