domingo, 9 de janeiro de 2011

Yoñlu, o astro cadente

"Os fones de ouvido eram o caderno dele. Não levava nada,
não ouvia o professor e depois passava por média emtudo’’
GENOVEVA GUIDOLIN, orientadora educacional do Colégio Rosário¹



A personalidade em questão não se trata de um heroi, mas de um anti-heroi. Não é um exemplo a ser seguido, mas um talento a ser admirado.  

Vinícius Gageira Marques foi um jovem portoalegrense que, aos 16 anos de idade, sozinho no apartamento em que morava com os pais, acendeu duas grelhas de churrasco no banheiro para, intoxicado, dar fim à sua vida. O fez com a ajuda de internautas de um site internacional de suicídio. Vinícius intercalara os preparativos no banheiro com conversas pelo computador. Perguntara aos que o acompanhavam pela rede como poderia aguentar o calor, pois este estava insuportável e, iniciado o processo, tudo teria de seguir como o planejado. Um bombeiro dos EUA deu-lhe a dica: deveria ficar nu e enrolar-se numa toalha molhada. Mais tarde o garoto viria a desmaiar e a sofrer uma morte indolor. O caso, ocorrido em 2006, circulou todo o país.
Vinícius tinha para si seu próprio mundo  –  o virtual. Lá, sentia que se expressava da forma como verdadeiramente era. Naquele mundo, não tinha rosto, nem identidade. Não haviam ideias preconcebidas sobre ele. Possuía até outro nome: Yoñlu.


Yoñlu falava em foruns da internet com um inglês desenvolto, aprendido de tanto assistir a filmes. Não para menos, o garoto, considerado superdotado, extraordinariamente inteligente e extremamente sensível¹, aprendera a tocar bateria aos quatro, vindo, mais tarde, a conhecer o piano e o violão; aprendera, ainda, a falar francês e galês. Se interessava também por poesia, fotografia e desenho. Era apaixonado por sua melhor amiga, Luana, sobre quem dizia ser sua ex-futura-namorada². Era filho de uma psicanalista com um profesor universitário e ex-secretário de cultura do Rio Grande do Sul. Cursava o terceiro ano do segundo grau. Era popular no colégio, apesar de serem raros os amigos. Seus headfones eram seu caderno - não anotava nada e era aluno de excelentes notas. Era músico - e dos geniais.
Yoñlu, como tal, participava de foruns musicais onde postava suas criações, e opinava sobre as dos outros. Chegou a criar uma música com os sons de impressoras, vindo a ser mixada por um dj escocês e que começou a ser tocada em boates na Europa. Seu talento, reconhecido como genial por internautas, fê-lo ter admiradores ingleses, escoceses, belgas, canadenses, norte-americanos, entre outros, mas sempre no mundo virtual. Em um desses fóruns, chegou a postar que pensava seriamente em se matar, e os internautas, evitando tocar no assunto, disseram-lhe:  – Não antes de nos presentear com mais canções.
Os amigos a quem mais se abria, os da internet, testemunharam sobre sua personalidade. Diziam que era difícil acreditar de que se tratava de um jovem, mais parecia um velho se passando por adolescente. Yoñlu não era exatamente um velho, mas um adulto precoce. Talvez tão adulto que não mais quisesse viver uma vida inteira até envelhecer novamente.
Yoñlu deixou em seu computador cerca de 60 canções gravadas por ele mesmo, sendo muitas de sua autoria. Utilizava apenas um microfone, um programa básico de edição e seu talento – voz, instrumentos e demais sonoridades eram feitos por ele, sozinho, em seu quarto. O calculista Yoñlu deixou uma carta de despedida, não para se redimir ou emocionar, mas para não incriminar seus familiares. Nela, agradecera o apoio dos pais e recomendou-lhes ouvir música quando se entristecessem, assim como ele fazia. Em constante conflito não com o mundo, mas consigo mesmo, Yoñlu fez da música uma das poucas alegrias na vida, a qual esteve presente também no momento de sua morte –  antes de adentrar o fatídico banheiro, ligou o aparelho de som. “Porque é bom morrer com música alegre”¹, escreveu em sua carta.
Obs.: Em 2008, o selo goiano Allegro lançou um disco póstumo com 23 canções, sendo 19 de Yoñlu. Em 2009, foi a vez do selo novaiorquino Luaka Bop lançar o garoto internacionalmente.

Autoria: Pedro de Azevedo

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(²) http://sorrisodolagarto89.blogspot.com/2009/11/vinicius-gageiro-marques-yonlu.html
http://www.sequelanet.com.br/2010/12/sucidiocom-yonlu-e-outros-casos-de.html


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2 comentários:

  1. Cara, eu não tinha a menor idéia disso. Essa história daria um belíssimo filme velho. Caramba, que demais o.o

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  2. Esses sites estimulando alguem se suicidar....como pode isso!!!

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