quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Quando um menino se torna um homem


Já parou para pensar qual sua primeira lembrança? Acho que as recordações da infância são extremamente profundas, já que muitas saltam do campo do inconsciente para o do consciente. Diversas lembranças passam anos sem serem recordadas, mas basta algum esforço mental de nossa parte – ou termos contato com algum cheiro, imagem ou som – que repentinamente elas nos aparecem.  
A criança também associa a realidade à sua volta com um rico imáginário, o que nos dificulta de saber se aquela breve recordação realmente ocorreu. Mas partindo para o campo da certeza, lembro-me de estar na creche, onde “estudei” dos cinco meses aos cinco anos de idade. Lá eu tinha uma amiguinha de quem gostava (não me lembro seu nome), e ela era namoradinha de um garoto da classe. Certo dia, ela veio conversar comigo, e disse-me que poderíamos nos beijar. Como um rapaz ético faria, questionei-a sobre seu namoradinho, e ela respondeu que não estavam mais juntos, que haviam brigado. Havia perguntado também se, caso nos beijássemos, não poderíamos ser pegos. Mas ela, que já o beijara, disse-me que havia um cantinho escuro na sala em que as titias (vulgo “professoras”, ou melhor, babás) não nos veriam. E eu, a vítima nisso tudo, nela acreditei, e inocentemente demos uns amassos no cantinho do pecado, ou seja, demos um beijinho. 


Acontece que era final de ano, e nossa turminha era uma das veteranas da creche. Íamos nos “formar” naquele ano, portanto. Acontece também que as professoras viram a gente. E acontece ainda que, numa carta de despedida das titias em homenagem aos seus alunos e entregue aos pais, elas escreveram sobre nossa aventura. Eu, claro, como menino, não dei a mínima. Mas ela, no dia da despedida, chorava e chorava sem parar. Talvez, pela vergonha diante de seus pais, por agora saberem que sua filhinha não era mais “zero kilômetro”, “zero bala”, que fora “aprovada no test-drive”. Talvez, porque sentiria saudades de mim, como disse minha mamãe naquele dia. Vai saber né, tudo coisa de menina...

Abraços, Pedro Henrique.

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