A finalidade de um copo é conter algum líquido. A água, por exemplo, lhe confere utilidade, lhe dá vida. De maneira semelhante, a finalidade do planeta Terra não é conter água, mas a água que contém lhe propicia a vida. O copo vazio fica seco, sem funcionalidade. Da mesma forma, o planeta escasso de água não abriga a pluralidade de vida quando repleto de água. O planeta seca, vira desértico, morre.
Em contrapartida, o copo com água em abundância, “cheio até a boca”, é delicado, pois haja o mínimo descuido e a água transborda e escorre, desperdiçando-se o líquido vital. Na Terra, a água está à disposição de todos os seres, mas a humanidade privilegiada enche seu copo com esse líquido, deixando seco o copo reservado à humanidade carente e à natureza. Estes, por terem seus copos escassos de água, convivem com a seca e com a morte. Os que têm muito para si, por terem seus copos com água em abundância, não lhe dão valor e a desperdiçam.
Mas a natureza busca sempre o equilíbrio. E, para equilibrar-se, de tempos em tempos ela faz com que surjam inundações e chuvas incessantes onde havia escassez, e secas prolongadas onde havia abundância. Todos sofrem por isso, para que o copo antes vazio, ao se ver mergulhado violentamente num mundo de água, seja delicado e generoso na abundância dela, e o copo antes cheio, ao se ver num deserto hostil, dê o devido valor e respeito que o líquido da vida merece.
Autoria do texto e edição de imagem: Pedro de Azevedo
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