Olha eu no filme do Renato Russo

Esse não sou eu, é o Renato

Esta tarde terminei meu segundo dia de filmagens. A equipe do filme foi muito agradável e gentil, me tratando como um ator do meu calibre merece ser tratado. Tanto ontem quanto hoje a produção me buscou num ônibus de primeira categoria, e o pessoal do figurino foi bastante atencioso. Falo do filme Somos Tão Jovens, que trata da vida de Renato Russo desde sua infância até a formação do grupo Legião Urbana, e que é do mesmo produtor do filme do Cazuza, O Tempo Não Pára.

Recebi, inclusive, o cachê referente aos dois dias de trabalho, no valor de R$140,00. Mas por que tão pouco? Para os que pensaram que eu fosse o protagonista do filme, vem aí a decepção: na verdade atuei como figurante! E para um figurante o cachê foi relativamente alto. De qualquer forma, a minha classe não pode de maneira alguma ser menosprezada, pois é ela que dá vida às cenas. O diretor Antonio Carlos da Fontoura deixou isto claro, quando orientou o câmera: "O importante é ele (ator), não o resto (figurantes)."

Orçado em R$6,4 milhões, o filme não poupa em figurantes

Como vim parar no filme? Dos 35 figurantes que filmaram comigo, grande parte veio por agências de modelo, apesar de que havia muita gente feia; de qualquer forma, foi há cerca de 1 mês quando me chamaram para participar. Eu estava na UnB (Universidade de Brasília) com uns colegas fazendo um trabalho de fotografia (que virou o post Meme - O Voo), e chegou um pessoal perguntando se não queríamos participar de um filme sobre o Renato Russo que seria rodado na cidade. Se eu estivesse sozinho acho que não toparia, mas como o pessoal resolveu se inscrever, também entrei nessa. E acabou que fui chamado.

Convite aceito, fui buscado na Rodoviária por volta das 5h30 da manhã e, junto de outros figurantes, fui levado ao set de filmagem, na casa real dos pais dos irmãos Lemos, que após a dissolução do grupo Aborto Elétrico, formaram o Capital Inicial ao lado de Dinho Ouro Preto.

Respeitável café-da-manhã

Pense numa casa grande, transforme em mansão e multiplique por quatro. Não necessariamente a casa era enorme, mas sim o terreno, o que era ideal para rodar um filme. A casa fica no Lago Norte, e a rua foi fechada para as gravações. Haviam três caminhões na rua, além dos toldos para maquiagem e troca de figurino e, claro, a mesa do café-da-manhã, da qual os figurantes também tinham direito de usufruir.

No primeiro dia (ontem), ficamos das 7 às 11h sentados no jardim esperando sermos chamados. Algumas cenas foram rodadas e logo veio a hora do almoço. Sabíamos que o rango era por conta da produção, mas todos os figurantes se surpreenderam com a qualidade da refeição - tratava-se de um buffet requintado, com direito a suco e a sobremesa. Para se ter ideia do nível da comida, pros carnívoros teve até lagarto. Nesse dia comi pouco, pois estava muito apertado, e fiquei assim até chegar em casa, por volta das 18h30. Havia um banheiro químico à disposição, mas os dejetos humanos tornavam a privada "insentável".

Após o almoço, dei uma breve cochilada e fomos convocados para a verdadeira ação. Dançamos ao som dos covers do Legião e do Capital, o que foi divertido, porém desgastante.

Pratada bonita e saborosa

Já o segundo dia (hoje) foi bem mais tranquilo. Demos continuidade às gravações do dia anterior, começando a filmar por volta das 8h e terminando lá pra meio-dia. Como a encarregada de nos pagar ainda iria demorar a chegar, o diretor permitiu que almoçássemos com eles novamente. O destaque do dia ficou com a batata refogada ao molho madeira.

O que fizemos nos dois dias foi basicamente andar pelo cenário e jogar conversa fora. Como não podíamos fazer barulho, tínhamos de gesticular e sorrir; assim, a gente fingia que falava qualquer merda e ria da cara do outro. Coisa semelhante aconteceu no primeiro dia, durante as cenas do show. Num determinado momento pediram para que continuássemos a dançar, mas sem som algum. Foi bizarro.

Revelações e Decepções

Engraçado como ninguém deu muita bola para os atores principais - não vi gente clamando por uma foto ou por um simples autógrafo. Talvez porque o ambiente fosse agradável, talvez porque não houvesse nenhum grande astro no elenco. Eu, pelo menos, não reconheci ninguém. Só depois fui informado de que gravamos ao lado de Olivia Torres, que fez uma gordinha em Malhação, bem como ao lado de uma ruivinha chamada Laila Zaid e da atriz global Bianca Comparato.

O intérprete de Renato Russo estava impecável, tanto na maquiagem quanto na voz. O sujeito, bem gente boa, parecia um ator qualquer, mas pesquisei seu nome agora pouco e fiquei de cara em como ele é diferente sem a maquiagem. Seu nome é Thiago Mendonça, e interpretou Luciano em Dois Filhos de Francisco.

Quanto aos figurantes, os de estilo mais alternativo foram catados na UnB e parecem ter sido selecionados a dedo. Durante as gravações, muita gente foi posta pra fumar cigarro de chá - simulando o de maconha -, mas volta e meia o pessoal da UnB puxava um trago de verdade fora do set de filmagens, escondidos em algum canto. De todo modo, eram muito gente boa.

Cena pós-show: era para eu estar lá na árvore com a menina

Uma coisa que me detonou foram as comparações com o Renato Russo. Quando, em alguma cena, seu intérprete ia passar próximo a mim, a Gi, responsável por nós, figurantes, me trocava de lugar dizendo que eu era a cara dele, ainda mais com os óculos de grau, e aí não rolava de ficar perto do cara. No primeiro dia isso aconteceu umas duas vezes. No segundo, mais duas. Virou até apelido. Uma moça chegou a me escolher como um dos cinco figurantes que continuariam a gravar na tarde de hoje, mas a Gi a convenceu de me dispensar. Se eu tiver sorte, apareço no filme por uns 5 segundos, quem sabe.

Mas tá tranquilo! Ainda vai chegar o dia em que dispensarão meu sósia no filme do Pedro Henrique...

Abraços, o próprio.

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